BLOG DA PASTORA ZENILDA


Pra. Zenilda Reggiani Cintra
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sexta-feira, 21 de novembro de 2014

SOBRE UMA PASTORA BATISTA MACAENSE CHAMADA LUSIANE CASTRO DA SILVA

Pra. Lusiane Castro da Silva, IB Memorial de Macaé,
Rio de Janeiro.
(Homenagem de Isac Machado de Moura por ocasião da consagração da pastora. As palavras bem poderiam homenagear a maioria das pastoras batistas e retrata, com certo humor, as características desse ambiente hostil às mulheres no ministério pastoral)

"Já disse que sou feminista. E feminismo nada tem a ver com DISPUTA. Tem a ver com reivindicar respeito, conquistar espaços. Ainda nos anos noventa, participei de várias lutas sociais, sindicais, pela igualdade de direitos, pela dignidade das meninas. Então vi meninas nas câmaras e assembleias legislativas, no congresso, no senado, meninas prefeitas, uma menina governadora do Rio de Janeiro, e uma menina presidenta. Entăo meninas tornaram-se pastoras e bispas em diversas comunidades evangélicas. E pelo país, entre os batistas, começaram a pipocar casos de ordenaçăo feminina, de enfrentamento até em relaçăo a um sistema maior. Todavia, os homens, sempre se achando poderosos, e querendo negar às meninas o direito ao chamado divino, porque isso, talvez, ameaçasse seus espaços, passaram a apelar para argumentos como a năo citaçăo de casos de ordenaçăo meninesca no Novo Testamento. Demoraram a entender aquela máxima do direito: "o que não é proibido é legalmente permitido". Meninas passaram a fazer Teologia, e algumas delas focadas no ministério pastoral. Mas isso continuou sendo-lhes negado. Os poderosos entendiam que a presença das meninas em seminários teológicos batistas já era uma concessăo. E que o máximo permitido a elas seria a função de educadoras religiosas, subordinadas, evidentemente, a um poderoso pastor, menino. Como assim, Deus falar com uma menina, trocar ideia com ela? Tempos antes, com homens mais poderosos ainda, deram um jeito de sumir com Maria Madalena da narrativa bíblica porque era menina. Ela poderia perfeitamente ter sido uma apóstola. Mas năo foi. Era menina. Era amiga do Cristo materializado, foi a primeira a vê-lo ressuscitado... mas era menina. Paulo chegou depois, foi

para a janela, assumiu o volante...era menino.
Enfim, pelo Brasil afora, várias pastoras batistas já haviam sido ordenadas. Convenções mais resistentes, como a fluminense, foi empurrando o tema o quanto pôde. Chegou-se a se propor, com base no princípio da autonomia da igreja local, a ordenaçăo de pastoras locais, que năo seriam reconhecidas pela Ordem dos Pastores Batistas, o que foi uma declaraçăo do tipo: "cada pastor, cada igreja local faça como lhe parecer melhor, mas registro na Ordem do Pastores já é demais." Pois bem, aí tenho que citar Chico Buarque para os homens poderosos que sempre argumentaram e votaram contra: "Inda pago pra ver / o jardim florescer / qual você năo queria.../ Como vai proibir / quando o galo insistir em cantar?..."


Concílio realizado no dia 8 /nov/2014

Entăo o galo cantou, o jardim floresceu, a sensibilidade e a lógica venceram. E ontem, minha amiga Lusiane, mulher, negra, educadora, dona de uma gargalhada discretíssima e de um abraço sufocantemente pastoral foi ordenada. E isso foi um marco na história dos batistas macaenses. Já havia acontecido em Campos com outras meninas, mas ainda meio que na marra. Hoje, dia da Consciência Negra, minha amiga preta, negra, afrodescendente, menina, acordou pastora batista. Um sonho, uma conquista, um avanço histórico. Obrigado, querida, pelo direito de ser parte dessa história, por estar "junto" nesse momento de conquista... Receba o meu abraço, pastora, a minha alegria por esse momento de evoluçăo histórica batista. E a vocês, companheiros pastores, que indicaram, sabatinaram (acho uma bobagem danada o concílio, mas...) e ordenaram essa nossa primeira pastora macaense, meu carinho, minha admiraçăo pelo pioneirismo.
Lu, professora Lu, amiga Lu, pastora Lu, PARABÉNS. Que o seu ministério pastoral seja abençoado e abençoador..."


Consagração no dia 19 de novembro de 2014

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