Jubileu de Prata das Pastoras da CBB:
Elas Vieram para Ficar!
Vital Sousa
Eu não poderia deixar de abrir espaço para as pastoras. É um ministério de suma importância e por isso mereceu um tratamento diferenciado da Vital Publicações ao longo de suas publicações Entrevistar estas três pastoras é um presente de Deus: Silvia Nogueira, Elizabete Teixeira e Zenilda Cintra são apóstolas de Jesus no nosso meio.
Um Jubileu tão importante não pode deixar de ser destacado. Elas têm muito o que dizer. A psicologia diz que as perguntas são mais importantes do que as respostas, eis a exceção:
Vital: Já temos pastoras batistas há mais de 25 anos e, por isso, algumas já estão se aposentando, como a Pra. Elizabete Teixeira Carvalho de Fortaleza, CE. Qual é o seu olhar do ministério pastoral batista no meio da Convenção Batista Brasileira (CBB)?
Pastora Sílvia: O ministério pastoral Batista é diverso. Há pastores fundamentalistas, conservadores e progressistas convivendo desde sempre, pensando em termos de leitura da Bíblia e compreensão teológica. Isto não é um fenômeno contemporâneo, mas parte integrante da identidade dos Batistas. Essa diversidade se aplica também às pastoras. Agora, o que se alterou drasticamente neste tempo foi que, comparando a atuação pastoral dos pastores e pastoras, as pastoras representam um tipo de pastoral menos elitista, mais próxima às congregações, mais consciente do dia a dia dos membros, porque escutam mais e melhor. Digo isso, porque, obviamente, com muitas exceções, o ministério pastoral anda esquecendo das marcas identitárias batistas. Pastores que controlam lideranças e membros com a figura de “pai espiritual”, que não respeitam o modo de sucessão pastoral, estabelecendo clãs de pai para filho nas grandes igrejas, mantendo filiais e não congregações, são anomalias contemporâneas nascidas no estilo de ministério dos pastores e não das pastoras. Creio que este é um tempo em que os Batistas poderiam servir de referência em democracia e liberdade, mas não tem sido assim. Nesse sentido, as pastoras, sem perder sua autoridade, têm muito a ensinar. Especialmente, nas periferias onde a quase totalidade se
Pastora Elizabete: Meu olhar é cheio de otimismo. Desde 1982 faço parte de uma igreja batista e sei por experiência própria que Deus pode e deseja abençoar o ministério de homens e mulheres vocacionados, como creio que vem Dele o chamado. Temos visto um grande crescimento no Brasil todo, especialmente nas sessões que filiam pastoras.
Pastora Zenilda: As pastoras comemoraram 25 anos da primeira consagração, que foi da pastora Silvia Nogueira, em 2024. em nosso 7º. Congresso #EuDisseSim, em Brasília–DF. Foi um momento de muita emoção e gratidão a Deus porque hoje temos mais de 500 pastoras em todas as regiões do país, sendo 164 filiadas à OPBB. As pastoras vieram para ficar, com resiliência, fé e esperança!
“Hoje temos mais de 500 pastoras em todas as regiões do país, sendo 164 filiadas à OPBB”
Vital: A OPBB se diz: “… uma entidade que congrega os Pastores Batistas do Brasil (CBB), visando ajudá-los a um melhor e mais eficiente exercício do Ministério Pastoral, tornando-se melhores servos de Jesus e das igrejas onde atuam”. Ao filiar parcialmente as pastoras, legitimamente consagradas pelas igrejas, negando a muitas essa possibilidade, ela está sendo injusta e discriminatória?
Pastora Sílvia: “Tu o dizes”. Vamos pensar juntos: a CBB não é o escritório de todas as suas organizações. A CBB não é a diretoria, o Conselho, nem o secretário executivo. Tirem de cena as igrejas, e todas as pessoas envolvidas na gestão destes espaços não representam nada em si mesmas. A CBB é cada igreja e congregação na grande diversidade dos Batistas no Brasil. E as ordens são igualmente satélites que orbitam no astro que importa: a igreja, até porque a experiência pastoral está intrinsecamente relacionada a uma igreja. Então, as igrejas Batistas no Brasil têm pastoras titulares e auxiliares em suas experiências comunitárias. É uma realidade denominacional. Irreversível, porque existente desde sempre e legitimada oficialmente desde 1999. Se as organizações ignoram, invisibilizam e inviabilizam a presença das pastoras em seus quadros, posso com tranquilidade afirmar que, no mínimo, estas organizações não se importam com aquilo que desejam e vivem as igrejas Batistas. Mas deveriam urgentemente se alinhar a esta realidade de nossa denominação.
“A CBB é cada igreja e congregação na grande diversidade dos Batistas no Brasil. E as ordens são igualmente satélites que orbitam no astro que importa: a igreja”
Pastora Elizabete: Injusta e discriminatória. É só olhar as leis do país. Nós temos o governo batista, que é congregacional e democrático, legitimando a escolha de tantas mulheres e homens pela igreja local. A OPBB congrega e ajuda estes e estas a exercerem de forma plena seus ministérios pastorais e deveria fazer isso em todo o Brasil, promovendo, defendendo e elevando, sendo uma mão amiga e parceira para todos, o que não acontece, infelizmente.
Pastora Zenilda: Com certeza! Não sei como os pastores, institucionalmente, conseguem conviver com tanta injustiça e discriminação. Não temem a Deus? É fácil ter uma resposta padrão e se juntarem em um lobby contra as pastoras. No entanto, Deus é maior do que qualquer ser humano e instituição. E ele continua chamando mulheres para o ministério pastoral.
“Nós temos o governo batista, que é congregacional e democrático, legitimando a escolha de tantas mulheres e homens pela igreja local”
Vital: A Pra. Odja Barros, quando ainda era da CBB, caracterizou a OPBB como uma desordem. Apesar da piada inteligente, não se pode comparar o nome de instituição com o antônimo de um subjetivo. E a OPBB não é uma desordem. Mas... a decisão de filiar pastoras deixando as decisões para as subseções/seções não é uma desordem?
Pastora Sílvia: Ora, todos sabem que foi uma decisão política e não necessariamente coerente com a realidade denominacional. Mas os colegas podem sempre rever decisões que não fazem sentido e comprometem o avanço do Reino.
Pastora Elizabete: As Seções e Subseções deveriam seguir a orientação da Ordem Nacional, mas a Ordem Nacional é omissa tantas vezes com o MPF e o que temos é essa situação de invisibilidade que, ao meu ver, isso não muda mais. Temos uma acomodação da realidade pela qual passam as pastoras no Brasil Batista pela OPBB e nós caminhamos como grupo, crescendo dentro do que é possível e marcando a história, como tem acontecido até aqui nesses últimos 25 anos desde que a primeira pastora foi ordenada.
Pastora Zenilda: Acredito que a OPBB hoje é refém das grandes seções, cujas lideranças que permanecem são extremamente conservadoras e os pastores que pensam diferente, e não estou falando em liberais, são ignorados e acabam se afastando. Assim, o pensamento fica hegemônico e excludente. Talvez nem todos da liderança sejam radicais e até já tenham esse esclarecimento a respeito da legitimidade das pastoras. No entanto, não se posicionam publicamente por temerem as retaliações.
Vital: Qual a contribuição que o pastorado feminino tem dado às igrejas, apesar de todas as críticas e violências que as pastoras e suas igrejas recebem?
Pastora Sílvia: Como já disse, as pastoras em geral desenvolvem um estilo de ministério mais humano e horizontal. Esta, por enquanto, é nossa contribuição mais visível. Afinal, o desejo de servir sempre ficou acima inclusive da nossa dignidade. O desejo de servir sempre foi o escudo diante das violências (inúmeras),injúrias e deslealdades. Penso que os colegas se aproveitaram (e ainda se aproveitam) dessa característica da obediência das mulheres ao Mestre e à vocação para usufruírem de seus dons sem as honrar, inclusive, financeiramente. Podem se justificar como quiserem, mas este comportamento indigno com as mulheres em liderança precisa deixar de existir.
“O desejo de servir sempre foi o escudo diante das violências (inúmeras), injúrias e deslealdades”
Pastora Elizabete: A contribuição é a mesma que os colegas fazem. Pregamos, visitamos, ensinamos, aconselhamos, pastoreamos a igreja com todadedicação e esforço. É só constatar e ver o que esses quase 30 anos últimos têm para mostrar ao Brasil Batista.
Pastora Zenilda: Precisamos pensar que as pastoras enfrentam os mesmos desafios que os pastores. Lutam com as mesmas dificuldades e ainda se acrescentam as perseguições locais e, muitas vezes, o assédio aos membros. Mesmo assim, Deus tem abençoado e as igrejas crescem e se fortalecem. Além disso,elas servem como espelho para muitas meninas que crescem nas igrejas e podem se inspirar no exemplo dessas mulheres valorosas, corajosas e submissas à vontade de Deus.
Pergunta 5: Mateus 19:26 diz que para Deus nada é impossível. Com base nas palavras de Jesus, como entender os que defendem que Deus não pode alguma coisa, como chamar mulheres para serem pastoras, na hora que Ele quiser e entender? São maiores do que Deus?
Pastora Sílvia: Irmãos e irmãs, quem sou eu e quem são vocês para dizer o que o Deus revelado nas Escrituras pode ou não fazer? Cada um dará conta de sua compreensão a Ele no Grande Dia. Agora, em termos denominacionais, temos um norte: a escolha do ministro(a) é uma decisão da igreja. E a igreja é a denominação.
Cremos na Soberania Divina e que Ele chama homens e mulheres de acordo com seus propósitos soberanos e eternos.
Pastora Elizabete: Nós não temos problemas com essa questão. Cremos na Soberania Divina e que Ele chama homens e mulheres de acordo com seus propósitos soberanos e eternos.
Pastora Zenilda: Acredito que os pastores deveriam estudar mais e não somente para reforçar o que já creem, mas para ampliar o entendimento dos assuntos, no caso a questão do ministério pastoral feminino. Um dos equívocos, por exemplo, é ligar a consagração de mulheres ao liberalismo. É cômodo e atrai muita oposição. Mas não é o caso. As mulheres serviram a Jesus e foram líderes importantes na igreja cristã primitiva.
Vital: Dê as suas considerações finais.
Pastora Sílvia: Irmãos e irmãs, colegas de ministério, os desafios deste tempo, os éticos, climáticos, políticos e cotidianos, precisam ser respondidos por homens e mulheres comprometidos em servir a Deus e as pessoas (e não a si mesmos), a amadurecer na experiência do Evangelho, na imitação misericordiosa de Jesus Cristo e não nos embaraços oriundos dos ódios, dos medos, do desejo de poder e dos egoísmos. Nós podemos mudar sempre. E pra melhor!
Pastora Elizabete: Agradeço à Igreja Batista Esperança, Fortaleza, CE, pelos 30 anos de reconhecimento da minha vocação pastoral (seminarista, auxiliar e pastora titular por 26 anos) e por respeitar meu desejo de concluir esse ciclo vitorioso agora no último dia 04/janeiro/2025.
Para as futuras gerações de mulheres vocacionada digo que estarei à disposição para encorajamento e apoio diante dos desafios que o chamado requer de cada uma.
“A OPBB como instituição deveria pedir perdão às pastoras por todo o mal que vem infligindo a elas nesses quase 26 anos”
Pastora Zenilda: A OPBB como instituição deveria pedir perdão às pastoras por todo o mal que vem infligindo a elas nesses quase 26 anos. Foram muitas e muitas manobras políticas e carnais para obstruir a caminhada delas, inumeráveis. Somos cientes da hipocrisia de muitos líderes dizendo-se apoiadores e não sendo, tudo em nome de uma carreira denominacional. Somos cientes também das resoluções tomadas e não divulgadas que enganam as igrejas e pastores, tanto da CBB quanto da OPBB, e também do sumiço de Atas e Estatutos que favorecem as pastoras. Somos cientes também daquelas que, entre nós, trabalham contra nós visando comer das iguarias da mesa que, na verdade, nunca chegam a elas. No entanto, Deus continua sendo Deus, num alto e sublime trono, Soberano, a quem amamos e servimos de todo o coração.
(Entrevista publicada originalmente em: https://acrobat.adobe.com/id/urn:aaid:sc:US:a1f7d681-974a-4970-89aa-41ac1cd15ba1?x_api_client_id=edge_extension_viewer&x_api_client_location=share)
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