(Ligia Martins de Almeida, Observatório da Imprensa ) Encerradas a apuração para as eleições presidenciais, a imprensa faz contas e mais contas. Quer saber quantos dos votos dados ao Partido Verde, ou melhor, a Marina Silva, vão para Dilma Rousseff e quantos vão para José Serra. E Marina, que com seus quase 20 milhões de votos levou José Serra para o segundo turno, ganha uma atenção inesperada. Mas a maior repercussão parece ter sido mesmo na Europa, onde Marina ganhou perfil nos mais importantes jornais e é saudada como a grande vencedora. Bastam, como exemplo, estas três publicações: ** Le Monde, 5/10/2010: Se a imprensa escrita procura manter o distanciamento e a objetividade, discutindo o futuro, a TV se mostrou mais emotiva, pelo menos para com as mulheres, como aconteceu na Globo News no dia seguinte às eleições. Na cobertura do day after, as apresentadoras revelaram seu encantamento com Marina e não tiveram medo de dizer que ela fez um discurso (logo após a decisão pelo segundo turno) "emocionado e emocionante", fazendo questão de comparar o comportamento de Marina com a seriedade de Dilma e o sorriso aberto dos tucanos. Mas nem a Europa e nem na imprensa brasileira fez uma continha muito mais simples: quase 67% (mais exatamente 67.287.693) votos foram dados às mulheres nas eleições presidenciais brasileiras de 2010. O Brasil tem, segundo o Tribunal Superior Eleitora (TSE), 135.804.433 eleitores. Foram 101.590.153 votos válidos no último dia 3 de outubro. E, desses votos, mais de 67 milhões foram divididos entre duas mulheres. Quando Marina, durante a campanha, dizia que o Brasil queria o feminino, poderíamos até concluir que era apenas discurso eleitoral. Mas o resultado das urnas mostrou que ela estava certa. A dúvida agora é se Dilma Rousseff representa esse "feminino" a que Marina se referiu durante a campanha. Esse tema poderia – e deveria – ser amplamente discutido e pesquisado pela imprensa, sem a interferência dos institutos de pesquisa, que saíram com a credibilidade bem arranhada das últimas eleições. Outro resultado a ser estudado pela imprensa – sempre levando em conta a mencionada preferência pelo feminino – é o da votação das mulheres para o Senado e a Câmara dos Deputados. Roseana Sarney representa o feminino ou o clã dos Sarney? A mulher de Joaquim Roriz foi para o segundo turno no Distrito Federal por que representa o feminino ou por que ganhou os votos que seriam do marido envolvido em escândalos? As perdedoras O eleitor brasileiro parece ter perdido de vez o preconceito contra as mulheres – uma vez que o voto feminino (mais de 50% do eleitorado) não chega aos 67% de votos recebidos por Dilma e Marina. O que seria bom saber é o quanto pesou o fato dessas candidatas serem mulheres e falarem pelas mulheres. Nos debates, a única que tocou no assunto foi Marina, ao dizer que conhece bem a luta das mulheres pobres para criar seus filhos. Mulheres que não têm renda suficiente para entrar nos programas de casa própria, uma das bandeiras usadas por Dilma para ganhar votos. Mas seria bom saber também se os partidos políticos realmente apostam nas mulheres ou apenas cumprem a lei que exige a participação de 30% delas entre seus candidatos. Os resultados para governos do estado, Senado e Câmara deveriam ser estudados e publicados pela imprensa, para mostrar se alguma coisa realmente mudou ou o diferencial foi apenas o fenômeno Marina Silva e sua onda verde. |
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Pra. Zenilda Reggiani Cintra
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quinta-feira, 7 de outubro de 2010
ELEIÇÕES 2010 Vitória do feminino?
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