Pr. Fernando de
Oliveira Cintra
Lendo alguns escritores e ouvindo "teólogos" sobre
o assunto, se mulheres podem ou não ser
pastoras, penso que apesar de passarmos pelo século IX e XX onde grande avanço
crítico-teológico aconteceu, muitos ainda não saíram da Idade Média quando as
interpretações bíblicas serviam ao status quo de uma igreja institucionalizada
e engessada nela mesma, desprezando o conhecimento metodológico como elemento
libertador e ampliador da visão.
Estamos de volta com os “pais” da igreja, e com a sua parte
pior, isto é, as posturas rígidas e as inflexibilidades, com doutrinas que eles
mesmos fizeram e que são consideradas como se fossem o suprassumo de todas as falas
através dos séculos e como que se a história não fosse dinâmica e profundamente
ampliadora de novos horizontes. Muitos têm uma visão que está sendo aos poucos
descongelada da história e que é fruto de um tempo que não existe mais.
O segundo Testamento, NT, é essencial para traçarmos uma
eclesiologia correta e não inibitória que faz com que a igreja fique aquém de
sua missio dei. Para os ditos "conservadores", o que temos é uma
estrutura modelo e hermeticamente fechada quanto à igreja e sua liderança. Negam
uma canonicidade que surge através de um amplo trabalho teológico do autor, da
própria igreja existente e de outras falas por tradição, como se assim fosse tiraríamos a pedra em que se
alicerça a Palavra de Deus como tal: sua inspiração. Interessante que aqueles
que assim pensam não conseguem explicar porque algumas perícopes são aceitas na
sua integralidade e na prática da igreja e outras não.
É impossível lermos sobre a igreja no II Testamento sem que
tenhamos em mente que há um grupo de uma nova religião tentando se organizar,
sobreviver entre as religiões constituídas e que por isso mesmo vai se estruturando como pode
a partir dos movimentos intrínsecos e extrínsecos que a faz existir e continuar existindo. Temos
assim, princípios que podemos aplicar para uma eclesiologia sadia:
1. Os dons são outorgados pelo Espírito Santo mediante as
necessidades da igreja;
2. Apesar dos apóstolos exercerem o papel de líderes-colunas da igreja, é ela que escolhe
seus líderes a partir de vários elementos que considera como orientação divina;
3. Não há, em nenhum sentido uma hierarquia de dons e nem de
ministérios, há sim uma hologarquia onde todos são iguais no serviço apesar de
diferentes funções no Corpo de Cristo;
4. Não é discutido na liderança o gênero dos seus liderados,
mas o fruto do Espírito Santo; se os possuem devem ser líderes, caso contrário
não podem, mesmo sendo um homem;
5. A igreja erra e acerta em sua liderança, mas tenta novos
modelos que adaptam a sua nova história.
Estes são alguns dos princípios, acredito suficientes para
que possamos entender Deus em Cristo criando um povo seu chamado agora de
igreja e que vai continuamente sustentando sua obra para que ela atenda à sua vocação expressa em
sua missão.
Neste pensamento a igreja hodierna pode criar suas
estruturas com liberdade e responsabilidade. Liberdade de ir além daquelas do
primeiro século e responsabilidade para que, em sua criação a partir da matéria
prima que são os relatos bíblicos, a igreja não se perca por não ter os
princípios como balizamento em sua nova maneira de ser igreja. A pobreza da
falta deste entendimento traz muito prejuízo a igreja de Cristo.
Creio que mulheres como pastoras estão sendo aprovadas em
todo o mundo simplesmente porque a igreja tem grandes desafios em suas
pastorais que não podem ser mais atendidas somente por homens na liderança de
ponta. Precisamos de pastoras para o aconselhamento, para a capacitação, para
exercerem seus pastoreios no meio de uma geração confusa e extremamente
exigente. Isso não quer dizer que a igreja está respondendo ao mundo e que isto
é perigoso como se ouve na fala de muitos, mas que a partir desta inteiração
ela se reestrutura para continuar sendo a luz e o sal da terra.
Precisamos ir em frente deixando de nos esconder sob arquétipos
traçados por interesses que uma ditadura biblicista possui. Vamos caminhar nas
verdades que Deus mesmo permitiu que conhecêssemos para que a igreja possa ser
resposta eficaz ao mundo. Vamos levar a obra de interpretação mais a sério.
Chega de pobreza bíblica que só serve para perpetuar uma opressão em todos os
sentidos e que faz respingar culpa e batalhas no meio do povo de Deus.
Que as mulheres chamadas por Deus e convocadas pela igreja a
serem pastoras venham e que todos nós possamos olhar para elas e seus
ministérios e pensarmos: "Deus está fazendo uma nova obra no meio dos
seus. Louvado seja o seu nome".
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