BLOG DA PASTORA ZENILDA


Pra. Zenilda Reggiani Cintra
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segunda-feira, 16 de junho de 2014

PASTORAS E A POBREZA DAS INTERPRETAÇÕES BÍBLICAS


Pr. Fernando de Oliveira Cintra

Lendo alguns escritores e ouvindo "teólogos" sobre o assunto,  se mulheres podem ou não ser pastoras, penso que apesar de passarmos pelo século IX e XX onde grande avanço crítico-teológico aconteceu, muitos ainda não saíram da Idade Média quando as interpretações bíblicas serviam ao status quo de uma igreja institucionalizada e engessada nela mesma, desprezando o conhecimento metodológico como elemento libertador  e ampliador da visão.
Estamos de volta com os “pais” da igreja, e com a sua parte pior, isto é, as posturas rígidas e as inflexibilidades, com doutrinas que eles mesmos fizeram e que são consideradas como se fossem o suprassumo de todas as falas através dos séculos e como que se a história não fosse dinâmica e profundamente ampliadora de novos horizontes. Muitos têm uma visão que está sendo aos poucos descongelada da história e que é fruto de um tempo que não existe mais.
O segundo Testamento, NT, é essencial para traçarmos uma eclesiologia correta e não inibitória que faz com que a igreja fique aquém de sua missio dei. Para os ditos "conservadores", o que temos é uma estrutura modelo e hermeticamente fechada quanto à igreja e sua liderança. Negam uma canonicidade que surge através de um amplo trabalho teológico do autor, da própria igreja existente e de outras falas por tradição, como se  assim fosse tiraríamos a pedra em que se alicerça a Palavra de Deus como tal: sua inspiração. Interessante que aqueles que assim pensam não conseguem explicar porque algumas perícopes são aceitas na sua integralidade e na prática da igreja e outras não.
É impossível lermos sobre a igreja no II Testamento sem que tenhamos em mente que há um grupo de uma nova religião tentando se organizar, sobreviver entre as religiões constituídas e que  por isso mesmo vai se estruturando como pode a partir dos movimentos intrínsecos e extrínsecos que  a faz existir e continuar existindo. Temos assim, princípios que podemos aplicar para uma eclesiologia sadia:
1. Os dons são outorgados pelo Espírito Santo mediante as necessidades da igreja;
2. Apesar dos apóstolos exercerem o papel de  líderes-colunas da igreja, é ela que escolhe seus líderes a partir de vários elementos que considera como orientação divina;
3. Não há, em nenhum sentido uma hierarquia de dons e nem de ministérios, há sim uma hologarquia onde todos são iguais no serviço apesar de diferentes funções no Corpo de Cristo;
4. Não é discutido na liderança o gênero dos seus liderados, mas o fruto do Espírito Santo; se os possuem devem ser líderes, caso contrário não podem, mesmo sendo um homem;
5. A igreja erra e acerta em sua liderança, mas tenta novos modelos que adaptam a sua nova história.
Estes são alguns dos princípios, acredito suficientes para que possamos entender Deus em Cristo criando um povo seu chamado agora de igreja e que vai continuamente sustentando sua obra  para que ela atenda à sua vocação expressa em sua missão.
Neste pensamento a igreja hodierna pode criar suas estruturas com liberdade e responsabilidade. Liberdade de ir além daquelas do primeiro século e responsabilidade para que, em sua criação a partir da matéria prima que são os relatos bíblicos, a igreja não se perca por não ter os princípios como balizamento em sua nova maneira de ser igreja. A pobreza da falta deste entendimento traz muito prejuízo a igreja de Cristo.
Creio que mulheres como pastoras estão sendo aprovadas em todo o mundo simplesmente porque a igreja tem grandes desafios em suas pastorais que não podem ser mais atendidas somente por homens na liderança de ponta. Precisamos de pastoras para o aconselhamento, para a capacitação, para exercerem seus pastoreios no meio de uma geração confusa e extremamente exigente. Isso não quer dizer que a igreja está respondendo ao mundo e que isto é perigoso como se ouve na fala de muitos, mas que a partir desta inteiração ela se reestrutura para continuar sendo a luz e o sal da terra.
Precisamos ir em frente deixando de nos esconder sob arquétipos traçados por interesses que uma ditadura biblicista possui. Vamos caminhar nas verdades que Deus mesmo permitiu que conhecêssemos para que a igreja possa ser resposta eficaz ao mundo. Vamos levar a obra de interpretação mais a sério. Chega de pobreza bíblica que só serve para perpetuar uma opressão em todos os sentidos e que faz respingar culpa e batalhas no meio do povo de Deus.

Que as mulheres chamadas por Deus e convocadas pela igreja a serem pastoras venham e que todos nós possamos olhar para elas e seus ministérios e pensarmos: "Deus está fazendo uma nova obra no meio dos seus. Louvado seja o seu nome".

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