BLOG DA PASTORA ZENILDA


Pra. Zenilda Reggiani Cintra
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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

AS MULHERES NA REFORMA PROTESTANTE

Pra. Sonia Motta
Texto em AFROKUT
Link indicado pela Pra. Odja Barros

No calendário protestante, o dia 31 de outubro é uma data importante, pois é a data em que se comemora o dia da Reforma. Todo protestante com um mínimo de conhecimento de história da Igreja citará de cor reformadores como Martinho Lutero, João Calvino, João Knox, Ulrico Zwínglio, Filipe Melanchton e outros. Mas nesta lista está faltando uma parte importante desta história. Onde estão as mulheres que atuaram pela Reforma da Igreja, defendendo, entre outros, a ordenação de mulheres? Que foi feito da memória delas e do trabalho que realizaram? Sabemos que ambos, homens e mulheres, tiveram papel relevante no movimento da Reforma. Mas lamentavelmente as mulheres são geralmente esquecidas. No que segue, queremos dar visivilidade à importância da atuação de algumas destas mulheres, que inclusive tiveram que se defender dos próprios reformadores homens.

1. As reformadoras
Catarina von Bora (1499-1550), na Alemanha, talvez seja a mulher mais lembrada da Reforma, sendo hoje reconhecida por ter extrapolado o papel de "esposa de Lutero". Além de excelente administradora dos bens familiares e da casa, conhecia os segredos da medicina caseira, utilizando seus conhecimentos para curar muitas pessoas. Além disto, havia sido monja e, mesmo antes de casar com Lutero, já conhecia o pensamento do reformador através dos seus escritos. Era uma mulher culta, que sabia ler e escrever. Com seus conhecimentos e por participar dos debates que aconteciam em sua casa, Catarina pôde opinar sobre assuntos referentes à Reforma. Em uma das cartas, Lutero informa a ela sobre o Colóquio de Marburg, que tivera com outros reformadores sobre a Santa Ceia, destacando-se dentre eles Zwínglio. Além do mais, foi ela quem incentivou Lutero a responder a Erasmo, quando este escreveu De Libero Arbitrio, ao que Lutero respondeu com o escrito De Servo Arbitrio (5).


Catarina Schutz Zell (1497-1562), de Estrasburgo, era uma mulher culta, leitora de Lutero; casou-se com um sacerdote que sofreu a excomunhão. Para defender o esposo, escreveu ao bispo cartas de protesto em defesa do casamento clerical:
Você me lembra que o apóstolo Paulo disse que as mulheres estejam caladas na Igreja. Eu desejo lembrar-lhe as palavras do mesmo apóstolo de que em Cristo não há mais macho nem fêmea, e a profecia de Joel: "Derramarei do meu espírito sobre toda a carne e seus filhos e suas filhas profetizarão". Não pretendo ser João Batista repreendendo os fariseus. Não alego ser Natan censurando Davi. Só aspiro ser a besta de Balaão castigando o seu senhor (7).
Recebia em casa muitos líderes da Reforma, entre eles Calvino. Além de acolher em casa pessoas perseguidas por causa da Reforma., Catarina Zell também escrevia muito, e em suas cartas incentivava as mulheres dos fugitivos a permanecerem firmes na fé. Estes escritos foram publicados como tratado de consolação. Escreveu também comentários sobre os Salmos 51 e 130, sobre a oração dominical e o Credo. Prestou serviços de acolhida a flagelados, exercendo o ministério da visitação. Intercerdeu por melhorias hospitalares. Pregou diversas vezes, inclusive na morte do esposo.

Claudine Levet
 (1532…?) atuou em Genebra. As atividades desta mulher foram relatadas nas atas de Antoine Fromment, pastor protestante da época. Quando se achava em um ajuntamento em que não havia ministros, os presentes pediam-lhe para explicar a Escritura, porque não podiam encontrar pessoa mais bem dotada com a graça do Senhor. Deixando para trás todas as suas pompas aplicou suas posses no socorro aos pobres, principalmente aos da família da fé, e os que haviam sido expulsos por causa da verdade, recebendo-os em sua casa (8).
Através das informações registradas por Fromment, é possível concluir que Claudine Levet pregava publicamente em Genebra, antes mesmo da chegada de Calvino.

Marie Dentière (9) também atuou em Genebra, não só pregando como publicando livros. Entre estes estão A Guerra e o Livramento da Cidade de Genebra (1536), sobre a Reforma genebrina entre 1504 a 1536, Defesa das Mulheres e Uma Carta Muito Útil (1539), duas cartas escritas para a rainha Marguerite de Navarra. Dentière conclui a carta Defesa das Mulheres fazendo um apelo à rainha para que interceda junto ao irmão, o rei da França, fazendo com que se elimine a divisão entre homens e mulheres, pois estas também receberam revelações que não podem ficar escondidas.

Embora não seja permitido a nós (mulheres) pregar em assembléias públicas e nas Igrejas, não obstante não nos é proibido escrever e admoestar uma a outra com todo o amor. Não somente para vós, senhora, desejei escrever esta carta, mas também comunicar coragem a outras mulheres mantidas em cativeiro, a fim de que todas elas não temam ser exiladas do seu país, parentes e amigos, como eu mesma, por causa da Palavra de Deus. Para que elas possam, de agora em diante, não ser atormentadas e afligidas em si mesmas, mas antes, rejubiladas, consoladas e estimuladas a seguir a verdade, que é o evangelho do Senhor Jesus Cristo. Até agora, este evangelho tem estado escondido, de sorte que ninguém ousa dizer uma palavra a respeito dele, e apareceu que as mulheres não deviam ler e entender nada dos escritos sagrados. É esta a causa principal, minha senhora, que me compeliu a escrever a V. Excia., esperando em Deus que no futuro as mulheres não serão tão desprezadas como no passado… em todo o mundo (10).
O estilo literário de Dentière mostra que ela escreve como mulher para mulheres, utilizando mesmo o recurso inclusivo, não omitindo nos seus escritos as figuras femininas da Bíblia, alertando para o fato de que não foram as mulheres que traíram Jesus ou foram falsas profetisas. Quando analisa o encontro de Jesus com a mulher samaritana, destaca esta mulher como uma das maiores entre os pregadores. E quanto à ordem de Jesus para as mulheres que testemunharam sua ressurreição, ela conclui:
Se Deus deu então a graça a algumas boas mulheres, revelando-lhes, pelas Santas Escrituras, algo santo e bom, não ousariam elas escrever, falar e declará-lo uma à outra? Ah! seria uma audácia pretender impedi-las de fazê-lo. Quanto a nós, seria muita tolice esconder o talento que Deus nos deu (11).

Uma calvinista inglesa, Rachel Specht, usou, em 1621, a parábola dos talentos para defender o direito das mulheres. Ela argumentava que as mulheres receberam corpo, alma e espírito de Deus. A alma, segundo ela, era o lugar onde habita a mente, a vontade e o poder. Para que Deus daria todos estes talentos a elas se não para serem usados? Não usá-los seria uma irresponsabilidade. As mulheres precisavam assumir o compromisso com o Evangelho, ou teriam que responder diante do Senhor pelo mau uso dos seus talentos. Rachel escrevia em forma de poesia e usava o próprio nome, em uma época em que as mulheres faziam uso de pseudônimos masculinos para permanecer no anonimato. As suas anotações eram abonadas por passagens bíblicas, o que revela seu conhecimento e capacidade de argumentação teológica (12).

As denominações oriundas da Reforma levaram algum tempo para permitir a ordenação de mulheres. Ainda hoje, em alguns lugares e em determinadas denominações, lamentavelmente ela não é permitida.

Resgatar esta história é fazer justiça a estas mulheres que tiveram a coragem de fazer diferente, abrindo caminhos para que tantas outras pudessem assumir o púlpito e ser ordenadas ao ministério. Que o dia 31 de outubro seja também um espaço de comemorar todas estas reformadoras e de continuar lutando pelo nosso direito de exercer "o sacerdócio universal de todos os e todas as crentes".

Por Sonia Motta, pastora da IPU e colaboradora no CEBI. É organizadora do livro Juventude Superando a Violência

(1) Martim LUTERO. Obras selecionadas, v. 5, p. 160-169).
(2) John KNOX, The first blast of the trumpet against the monstruous regiment of women (1558), in: The works of John Knox, ed. David Laing, v. IV, p. 366-373, ap. J. D. DOUGLAS, op. cit., p. 103-104.
(3) ID., ibid., p. 26.
(4) George H. TAVARD, Woman in Christian Tradition, p. 176.
(5) Heloísa Gralow DALFERTH, Katharina von Bora, em especial p. 86.
(6) Alexander Duncan REILY, Ministérios Femininos em Perspectiva Histórica, p. 136-137.
(7) R. BAINTON, Women of the Reformation in Germany and Italy, p. 55, apud: J. D. DOUGLAS, op. cit. p. 101.
(8) Anthoine FROMMENT, Les Actes et gestes merveilleux de la cité de Genève, apud: J. D. DOUGLAS, op. cit., p. 110.
(9) J. D. DOUGLAS, op. cit., p. 111-114.
(10) Apud J. D. DOUGLAS, op. cit., p. 112-113.
(11) Apud J. D. DOUGLAS, op. cit., p. 113.
(12) W. DEIFELT, op. cit., p. 365-366.

2 comentários:

  1. Cantares uma proposta de novos homens e novas mulheres.

    A cultura patriarcal sempre considera a mulher inferior ao homem. Por isso, devia ficar submissa primeiro a seu pai e a seus irmãos. Mais tarde, a seu marido, aos teólogos da religião e aos governantes. Essa já foi a realidade das mulheres no tempo de Salomão . Diante disso, Cantares propõe, em vez de submissão, relações de respeito de reciprocidade e de parceria. Propõe relações de gênero com base na igualdade, ao companheirismo e na solidariedade entre homens e mulheres. O livro de Cantares, resgata o projeto de Deus no que diz respeito às relações de gênero. Recuperam Gn 1,26-27 e Gn 2,21 -24 que proclamam cidadania igual diante de Deus, tanto para as mulheres quanto para os homens. Nesse sentido, Cantares não só propõe um novo jeito de ser mulher, mas rediscute também o modele de masculinidade, com vistas à construção de um novo homem.

    A busca da pureza diante de Deus fazia com que os homens con­siderassem o corpo da mulher impuro, como também toda atividade sexual, inclusive dos homens. Considerar as mulheres inpuras certamente era uma medida adotada pelos homens para legitimar o monopólio mas­culino dos espaços de poder religioso e político. Dessa forma, marginali­zaram, culpavam e controlavam as mulheres. Diante disso, Cantares canta sem preconceitos a beleza e a pureza do corpo da mulher (1,9-10.15; 4,1-7;6,4-7; 7,1-10). Porém, não deixa de descrever também o corpo do homem (5,10-16).

    E interessante perceber como a linguagem do amor está presente no texto. Citemos alguns exemplos: o cheiro (1,3.12-14; 2,13; 4,11), o olhar (1,15-16;2,9; 4,9; 6,5), o toque (1,2b; 2,6; 3,4; 4, 10), o lamber (2,3-5; •4,10-11.16; 5,1) e o beijo (1,2; 7,10)

    Há também várias metáforas para se referir à sexualidade da mu- lher,tais como: vinha (1,6; 8,12), jardim/vegetação (4,12.16; 5,1),monte de mirra/incenso [4,6), porta (8,9b). Outras figuras se referem à sexualidade do homem Veja., por exemplo, fruto (2,3), bandei­ra (2,4), imagens de movimento, como o vento (4,16) alem disso, pode­mos perceber imagens que evocam o ato sexual: casa do banquete (2,4-6), ir ao monte de mirra e incenso (4,6), ir ao jardim (4,12-5,1), sob a macieira, a árvore afrodisíaca,isto é, que desperta o amor, a paixão (2,3; 8,5)



    O machismo desqualificava a mulher como incapaz, proibindo-a de exercer qualquer função económica, social, política ou religiosa. Diante disso, Cantares destaca o papel da mulher como trabalhadora e como líder, capaz de tomar iniciativas, Ela é independente diante de seus irmãos (8,8-10) e diante do poder do dinheiro que inclusive compra mulheres, ela protesta e afir­ma ser dona do seu corpo,de sua sexualidade, sua vinha (8,11-12). Ct3,1 -4 e 5,2-8 mostram que ela é corajosa enfrenta os guardas da cidade.

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  2. Continuando....

    • O Pai da sulamita nao é mencionado nenhuma vez em CantaresEnquanto isso, sua Mãe é lembrada sete vezes (1 3,4-.11; 6,9; 8,1.2.5). E é na casa dela que os noivos si entregam apaixonadamente um ao outro, consumando o amor (8,1 4). Isso faz lembrar G-n 2,24, em que também o homem deixa sua casa paterna para se integrar à casa de sua amada. Isso tanto mais significativo quanto mais se tiver presente que, numa sociedade patriarcal, é a mulher quem deixa sua família para passar a fazer parte da família do marido. É também a Sulamita que procura livremente seu a ma do. Ela não é comprada e nem dada em casamento para ser propriedade do marido. .Até pouco tempoatrás, era a mulher quem simbolicamente negara a identidade de sua família, assumindo o sobrenome do esposo como sinal de total pertença à casa do patriarca. Muitas vezes, porque fazia parte da tradiçao, ou até inconscientemente. como tardamos para entender a mensagem de Cantares!
    • Outro elemento que supera uma relação unilateral em que a mulher pertence ao marido como sua propriedade é a total reciprocidade vivida pelos noivos num cenário de total liberdade no campo. Como ele, também ela é única, exclusiva para seu amado
    • Cantares reivindica o direito de a mulher manifestar publicamente seus sentimentos sem ser reprimida. Seu desejo é que o amado a cubra de Beijos (1,2). Além disso a mulher tem a iniciativa.

    E interesante notar que a relaçao amorosa é de total gratuidade. é avivência do prazer, da plena realização por amor. Cantares nem chega a falar em filhos,que era o primeiro objetivo do casamento.
    Cantares propõe a xalomização das relações de genero.
    O nome do noivo é Salomão (3,7-11). O da noiva é Sulamita (6,13). Esses nomes não foram escolhidos ao acaso. Foram muito bem pensados, pois seu significado faz parte da mensagem desses poemas de amor.
    Ambos vêm da palavra xalôm, que significa paz, plena realização, -harmonia, felicidade, bem-estar, equilíbrio Cantares é escrito para as pessoas que se amam é a xalomização de suas relações.
    Pensar necessariamente no rei Salomão, portanto, não Faz justiça aCantares, Como todos os reis, também o monarca Salomão mantinhasuas muitas mulheres em estado deprimente, subordinadas, submissascomo objetos de prazer para estarem a serviço de seus caprichos sexuais.
    Chamar o noivo de rei (3,9.11) também não é necessariamente umareferencia ao monarca. Era comum na época que se chamasse o noivo de Rei e a noiva de rainha. Num casamento, não sao eles,na verdade, a Rainha e o Rei da festa? Veja, por exemplo, em 1,12.13 como "rei" e "amado" se correspondem.
    Enfim a Sulamita representa não somente as mulheres de Judá mas especialmente as mais pobres.

    ildo bohn gass

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