(Hermes C.
Fernandes)
Aproveitando o mês em que se comemora o Dia Internacional
da Mulher, resolvi escrever um artigo sobre o tão polêmico tema. Respeitando os
discordantes, quero expor aqui as razões pelas quais defendo a ordenação
feminina, tanto ao presbiterato, quanto ao diaconato.
1 – Em
Cristo acabam as distinções étnicas, sociais e sexistas
“Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho
nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Gálatas
3:28
Se Deus pode incluir judeus e gentios no ministério,
por que não incluiria tanto homens quanto mulheres? Se vamos manter a distinção
entre sexos, deveríamos também manter a distinção entre dias, meses, anos, entre
judeus e gentios, entre animais limpos e impuros, etc.
2 – A
atividade pastoral é, antes de tudo, um dom – O argumento usado por
Pedro para justificar a inclusão dos gentios na igreja foi o dom do Espírito que
lhes fora concedido da mesma maneira como aos judeus. Como os apóstolos poderiam
impedir a sua inclusão? Semelhantemente, a igreja deve reconhecer o dom pastoral
que tem sido concedido a indivíduos do sexo feminino. Ordenar nada mais é do que
reconhecer o dom. Negar-se a reconhecer o dom conferido por Deus é o mesmo que
resistir a Deus. Confira:
“Portanto, se Deus lhes deu o mesmo dom que a nós, quando havemos
crido no Senhor Jesus Cristo, quem era então eu, para que pudesse resistir a
Deus? E, ouvindo estas coisas, apaziguaram-se, e glorificaram a Deus, dizendo:
Na verdade até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida.” Atos
11:17-18
Se os líderes atuais reconhecessem o dom pastoral
que Deus tem concedido à mulheres, toda discussão cessaria. Alguns, mesmo
reconhecendo do dom, negam o título. Algumas denominações preferem chamá-las de
‘missionárias’, ‘doutoras’, mas jamais ‘pastoras’. Chega a ser ridículo. Em
contrapartida, encontramos muitos homens que ostentam o título sem jamais terem
sido vocacionados para o desempenho do pastorado. Patético e
lamentável.
3 – O Dom de Profecia é dado tanto a homens
quanto a mulheres
“E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a
carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão
sonhos, os vossos jovens terão visões.
E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.”
Joel 2:28-29
E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.”
Joel 2:28-29
De acordo com o discurso de Pedro no dia de
Pentecostes, tal profecia cumpriu-se cabalmente quando o Espírito foi
profusamente derramado sobre os 120 discípulos reunidos no cenáculo. Ora, se as
mulheres devem manter-se caladas na igreja, conforme interpretam alguns a
instrução paulina, logo, como elas poderiam profetizar? Por linguagem de sinais?
rs Lemos em Atos 21:8-9 que Filipe, um dos sete diáconos originais, também
reconhecido como evangelista, tinha quatro filhas que profetizavam. E o que
seria “profetizar” dentro do contexto neotestamentário? Paulo responde: “o que
profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação” (1 Coríntios
14:3). Os mesmos que se manifestam contrários à ordenação feminina dizem que o
exercício do dom de profecia está ligado à atividade pastoral . O pastor é o
profeta da igreja. Através da pregação, ele edifica, exorta e consola. Ora, ora…
Seguindo a mesma linha de raciocínio, uma mulher que tenha recebido de Deus tal
dom, estaria habilitada pelo Espírito a exercer o ministério pastoral.
4 – O sacerdócio universal dos
crentes
Alguém poderá argumentar que embora
encontremos profetizas nas Escrituras, jamais encontramos sacerdotisas. Mas
peraí… Cristo não substitiu o sacerdócio levítico por um eterno, onde
todos somos igualmente sacerdotes?
“Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e
sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por
Jesus Cristo (…) Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação
santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz.”1 Pedro
2:5,9
Eis um dos pilares da reforma protestante. Todos os
crentes são sacerdotes, sem importar seu gênero. Manter a distinção entre clero
e leigos é um ranço indesejável que herdamos do romanismo. E como sacerdotes,
temos duas atribuições: a) oferecer sacrifícios espirituais a Deus b) anunciar
as virtudes d’Aquele que nos chamou das trevas para a luz. Homens e mulheres
estão igualmente incumbidos disso. Ora, por que razão deveríamos privar mulheres
de celebrar os sacramentos/ordenanças (Leia-se Ceia e Batismo)? Conheço
denominações em que as mulheres podem ensinar, pregar, trabalhar na secretaria,
evangelizar, mas não podem celebrar a ceia ou o batismo. Isso não faz o menor
sentido. Quem está habilitado a anunciar as virtudes do Deus vivo e a oferecer
sacrifícios espirituais também está habilitado a partir o pão e batizar. Questão
de coerência. O problema é que os homens não querem abrir mão da proeminência.
Durante a celebração da primeira eucaristia, Jesus despiu-Se diante dos
discípulos, cingiu-se de uma toalha e lavou-lhes os pés. Alguns entendem que o
lava-pés seria uma cerimônia complementar da Ceia do Senhor. Mesmo que não
encaremos como uma ordenança, não podemos fazer vista grossa ao fato de que foi
durante a Ceia que Ele nos deu tal exemplo. Escrevendo a Timóteo, Paulo diz que
antes de inscrever uma viúva para ser socorrida pela igreja, dever-se-ia
verificar se a mesma praticou toda a boa obra, inclusive lavar os pés aos santos
(1 Tm.5:10). À esta altura, o lavar os pés dos irmãos havia se tornado numa
prática constante na igreja. Jesus deixara o exemplo aos Seus discípulos homens,
porém, mesmo as mulheres a observavam. Isso fazia parte da diaconia, exercida
tanto por homens quanto por mulheres.
5 – Foi a uma mulher que
Jesus confiou o primeiro “ide” após Sua
ressurreição
Jesus poderia ter aparecido
primeiramente aos Seus discípulos homens, mas preferiu aparecer primeiro a uma
mulher, a quem confiou Seu primeiro “ide” (Jo.20:17). É possível que os
discípulos tenham se sentido desprestigiados por isso. - Por que a uma mulher, e
não diretamente a nós? Talvez isso indicassse a importância que Jesus atribuia
ao gênero feminino na difusão do Evangelho.
6 – Há
evidências de que havia liderança feminina na igreja primitiva
Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva da igreja em Cencréia. Peço
que a recebam no Senhor, de maneira digna dos santos, e lhe prestem a ajuda de
que venha a necessitar; pois tem sido de grande auxílio para muita gente,
inclusive para mim. Saúdem Priscila e Áqüila, meus colaboradores em Cristo
Jesus. Arriscaram a vida por mim. Sou grato a eles; não apenas eu, mas todas as
igrejas dos gentios. Saúdem também a igreja que se reúne na casa deles. Saúdem
meu amado irmão Epêneto, que foi o primeiro convertido a Cristo na província da
Ásia. Saúdem Maria, que trabalhou arduamente por vocês. Saúdem Andrônico e
Júnias, meus parentes que estiveram na prisão comigo. São notáveis entre os
apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim. Romanos
16:1-7
Quanta informação valiosa numa simples saudação! No
texto original, Febe é chamada “diaconisa na igreja em Cencréia”. De acordo com
o testemunho do autor patrístico Teodoreto de Ciro (393 – 466 d.C.), Febe era
uma pregadora itinerante cuja fama correu o mundo todo. “Ela era conhecida não
apenas entre os Gregos e Romanos, mas entre os bárbaros também”. E Febe não foi
a única. Uma pedra tumular foi achada em 1903 no Monte de Oliveiras com esta
inscrição: "Aqui jaz a serva e virgem noiva de Cristo, Sofia, a diaconisa, a
segunda Febe". Isso demonstra que Febe tornou-se numa espécie de referência de
liderança feminina na igreja primitiva.
Em sua recomendação, Paulo dá
testemunho de que Febe teria sido de grande auxílio para muita gente, inclusive
para ele mesmo. O texto original nos fornece uma compreensão um pouco mais
acurada: "Porque ela tem sido indicada, realmente por minha própria ação, uma
oficial presidindo sobre muitos."
O termo traduzido como “auxílio” é
prostatis (Rom. 16:2). Esta palavra não é traduzida dessa maneira em
nenhum outro lugar nas Escrituras gregas. Foi uma palavra comum e clássica que
significava "padroeira ou protetora, uma mulher colocada por cima dos outros". É
a forma feminina do substantivo masculino prostates, que significa
"defensor" ou "guardião" quando se refere aos homens. Em 1 Timóteo 3:4-5,12 e
5:17, o verbo proistemi é usado a respeito das qualificações dos bispos e
diáconos quando Paulo ordenou aos homens a "governarem" bem as suas casas, que
incluiu cuidar das suas necessidades. O que foi que significou para homens, deve
significar o mesmo para as mulheres. O que foi que estes bispos e diáconos
fizeram para as suas casas, Febe fez para a igreja e Paulo. As posições foram
idênticas.
Se nós recusarmos a admitir que Febe "governou", ou
"liderou", ou foi uma "defensora", ou "guardiã", então nós precisamos rebaixar
os diáconos para qualquer nível em que Febe estava ministrando. Se Febe só
"auxiliou”, então é só isso que os diáconos fizeram. Seria muito inconsistente
traduzir a palavra como "governador" quando se refere aos homens e "auxílio"
quando se refere as mulheres.
Entre os que recebem a saudação paulina,
destacam-se Priscila e Áquila, responsáveis por ensinar o Evangelho com mais
precisão a Apolo, um dos mais eloquentes pregadores da época. Propositadamente,
Paulo menciona Priscila antes de Áquila, o que poderia soar indelicado, para
indicar sua importância ministerial. Um pouco mais adiante, Paulo nos revela
dois personagens curiosos, a saber, Andrônico e Júnias, “notáveis entre os
apóstolos”. Se, de fato, ambos, marido e mulher, eram considerados “apóstolos”,
não sobre margem pra discutir sobre a legitimidade da liderança feminina na
igreja primitiva.
7 – Porque está comprovado a capacidade
feminina em exercer qualquer papel antes atribuído somente aos
homens
Tenho sido testemunha do flagrante
sucesso obtido por mulheres no exercício do ministério pastoral. Algumas
obtiveram êxito onde homens falharam. Eu poderia citar vários casos do meu
conhecimento. Depois de todas as conqusitas da mulheres na segunda metade do
século XX pra cá, seria, no mínimo, anacrônico acreditar em sua incompetência
para a liderança eclesiástica. Muito antes da revolução cultural, em tempos
bíblicos elas já demonstravam suas habilidades como rainhas, juízas, profetizas,
e, diga-se de passagem, até pastoras. Vide Ester, Débora, Ana e Raquel. Por que
razão Deus as privaria do privilégio de serem instrumentos do Seu amor para
cuidar do Seu rebanho particular
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