BLOG DA PASTORA ZENILDA


Pra. Zenilda Reggiani Cintra
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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

OPBB EM GRAMADO 2015

Algumas observações/informações preliminares da OPBB em Gramado:
- Foram 501 inscritos e faltou material para inscrição de não sei quantos pastores. Acho que ninguém esperava tantos pastores/as
- Houve muito questionamento quanto à administração e finanças da OPBB. Acho que muita coisa vai mudar.
- Foi questionado o cadastro dos pastores e não constará mais pessoas não filiadas à OPBB (Pela Aamp era possível cadastrar-se sem ser da OPBB)
- Há um anseio no plenário de que o cadastro seja da própria OPBB e não de empresas terceirizadas.
- O estatuto e regimento foram reformados em função de questões jurídicas, de seções da OPBB no exterior, como na América do Norte onde há muitos pastores batistas e em função da adequação das pastoras diante da decisão de João Pessoa. Agora a palavra PASTORA consta nos documentos. É uma vitória e tanto!!!
- O Pr. Éber Silva foi eleito presidente.
- A Pra. Marli Terezinha foi eleita 1ª. secretária.
- Está na CBB o diretor do Seminário do Sul dos EUA. Falará em vários momentos, inclusive falou hoje de manhã na OPBB. Há um receio quanto à disseminação de ideias fundamentalistas, como fizeram na Convenção do Sul dos EUA, o que prejudicaria tremendamente as pastoras. Há convênios com instituições para mestrado, recrutando líderes promissores e aproximação com outras organizações. Leia: AMEAÇAS À CIDADANIA DA MULHER BATISTA
- A mesa se portou com muita lisura em tudo. Mesmo sem todos serem favoráveis ao pastorado feminino, trataram o assunto com isenção. A direção das discussões a respeito do estatuto e regimento pelo Pr. Vanderlei Marins foi admirável.

4 comentários:

  1. Fantastica aula do Prof. Dr. Milto schantes no encontro nacional de mulheres metodistas Tema : “Mulher, Bíblia e Cidadania” Dr. Milton Schwantes Link do Vimeo : https://vimeo.com/50810848

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  2. A Bíblia e o patriarcado – Jurgen Moltmann
    A hierarquia patriarcal dos sexos não entrou no mundo por intermédio da Bíblia; a Bíblia, no entanto, surgiu no mundo do patriarcado. Os seus testemunhos provêm do período de transição da vida nômade para a sedentária e de transição da vida agrária para a urbana. Trata-se de testemunhos de um período de cerca de mil anos.
    O Tenach/Antigo Testamento, visto na perspectiva da história cultural, mostra os conflitos entre o Deus nômade “de Abraão, de Isaque e de Jacó” e as deusas da fertilidade cananéias, que eram adoradas na região oriental do Mediterrâneo e também no Israel histórico por meio de cultos de mulheres. Na própria fé em Deus existente em Israel, havia tradições de cunho fortemente masculino, que falam de javé como senhor, juiz, herói de guerra, pai.Há, ao lado disso, também tradições de cunho feminino, que falam da filha divina Hochmá (Sabedoria), da Kuah (Espírito de Deus) e da Shechiná (Habitação de Deus). Há, por fim, conflitos internos entre as tradições libertárias israelitas e as concepções da ordem patriarcal.
    Do ponto de vista da história da cultura, encontramos uma imagem parecida no Novo Testamento cristão: há aí, de um lado, a comunidade de seguimento de Jesus,formada por discípulas e discípulos iguais e livres, e, do outro lado, a ética familial dos códigos domésticos nas Cartas Pastorais; aqui o evangelho da liberdade do Espírito - lá o sistema da ordem da criação contra a angústia do caos Contudo essas considerações a partir da história da cultura dizem muito pouco sobre o conteúdo das histórias de Deus e dos testemunhos de Deus do Antigo e Novo Testamentos. Platão viveu numa sociedade de escravistas e foi adepto do tirano de Siracusa, mas isso nada, nada diz sobre a verdade de sua doutrina das ideias. Mozart foi filho de sua época absolutista, mas essa constatação nada diz sobre a beleza de sua música. O fato de a Bíblia ter surgido no mundo do patriarcado e da escravidão ainda não diz nada relativamente à presença da eternidade na sua época ou ao futuro no seu passado. Contudo toda visão histórica das tradições bíblicas enquadra-as na sua época e descreve as suas concepções dentro do seu próprio mundo. Esta época e este mundo não são mais nossa época nem nosso mundo. Ninguém lê a Bíblia para assumir uma visão de mundo ultrapassada. Ninguém é obrigado a assumir as concepções sociais e as hierarquias sexuais patriarcais da Bíblia. Se fosse, seria preciso reintroduzir no cristianismo, por razões bíblicas, a escravidão e, em lugar da democracia, retornar à monarquia e assim por diante. Considero impraticável acompanhar Karl Barth, que em 1934 escreveu para a teóloga feminista Henriette Visser’t Hooft, “que a Bíblia como um todo não pressupõe o matriarcado, mas o patriarcado como ordem terreno-temporal das relações entre homem e mulher” e que esse “fato” deveria ser aceito como disposto por Deus, “assim como o fato de que o povo eleito, ao qual também Cristo pertencia, definitivamente não foi o dos cartagineses ou espartanos, mas o povo de Israel”. Por essa razão, o patriarcado pressuposto na Bíblia estaria entre “as disposições especiais de Deus em vista de seu agir para com os seres humanos”.Por sorte, Barth “de todo modo não” estendeu esse “positivismo da revelação”, como Dietrich Bonhoeffer o denominou, ao instituto da escravidão

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  3. Para diferenciar hermeneuticamente entre o temporal e o eterno, entre o passado e o que aponta para o futuro nas tradições bíblicas, deve-se retornar aos critérios objetivos do falar de Deus que nelas ocorre. Senão restaria como alternativa apenas deter toda a história da cultura mediante uma leitura fundamentalista da Bíblia ou escrever para si mesmo novas Escrituras santificadas em cada nova época e sob cada nova circunstância. O Deus que está presente com seu povo na promissão, no êxodo, na aliança e na lei é, na minha opinião, o primeiro critério objetivo no Tenach/Antigo Testamento. Trata-se do Deus, do qual os seres humanos não devem “confeccionar imagem nem semelhança”, porque eles mesmos são a sua “imagem fiel” sobre a Terra, criados como “masculino e feminino” (Gn 1,27). Essa proibição de fazer imagens vale também para representações, metáforas e analogias humanas: Deus não é como um pai, nem como um senhor, nem como um herói de guerra e assim por diante. Antes, a sua presença liberta de tais analogias e das representações de Deus, por elas legitimadas, baseadas em pais, senhores e guerreiros terrenos. Se a sua imagem fiel é “masculina e feminina”, então o Deus sem imagem está eqüidistante de imagens masculinas e femininas e não pode ter predileção por analogias masculinas. Portanto, se sabemos que Deus é as duas coisas, podemos dizer que Deus é como um pai e como uma mãe, como um ancião e como uma criança, como um todo-poderoso e como um compassivo e assim por diante.
    Disso deve decorrer, então, uma “des-teocratização” e “des-patriarcalização” conseqüentes das histórias bíblicas de Deus e das leis de Deus. Ao lado de Moisés, que conduziu o seu povo à liberdade, deve-se destacar com a mesma ênfase a profetisa Míriam e seu hino do Mar de Juncos (Êx 15,20ss.), que deve ter liderado um grupo de cativos. Os Dez Mandamentos devem ser, então, reinterpretados, passando de mandamentos para homens — “Não cobiçarás a mulher do teu próximo (...)” — para mandamentos humanos para homens e mulheres. A legislação levítica sobre a “pureza e impureza” da mulher e os “textos de terror” das tristes e repugnantes histórias de mulheres, como de Hagar, Tamar, da filha de Jefté e da mulher desconhecida que foi violentada (Jz 19) necessitam de uma re-visão no sentido literal do termo. Deve ser revisto também o mal-entendido, que já ocorre na própria Bíblia, do segundo relato da criação e da história da queda no pecado, segundo os quais a mulher “criada em segundo lugar foi a primeira a cair em pecado” (1 Tm 2,1 lss.): Adão foi feito do pó, mas Eva de Adão; portanto, ser a “segunda” não significa ser de natureza secundária, mas antes superior.Que “Adão não foi seduzido, mas a mulher, sendo seduzida, introduziu a transgressão” (1 Tm 2,14) contradiz Gn 3 e representa uma continuação tipicamente masculina das acusações maldosas feitas por Adão contra Eva (Gn 3,12). De acordo com essas exegeses errôneas, trata-se, no pecado original da humanidade, do “pecado de Eva” ou, como diz de resto a linguagem de Paulo, do “pecado de Adão”?

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  4. Também a hierarquia patriarcal.\ com a condição rebaixada da mulher, que Paulo descreve em 1 Co 11 (Deus é a cabeça de Cristo, Cristo é a cabeça do homem, o homem é a cabeça da mulher), não corresponde à condição igualitária de imagem fiel de Deus de homem e mulher, expressa em Gn 1,26. Até mesmo entra em contradição com ela quando, em 1 Co 11,7, chama o homem de “imagem e glória de Deus”, mas a mulher apenas “glória do homem”. Com essa hierarquia gradativa, Paulo contradiz também o batismo único e o dom do Espírito para o homem e a mulher, que ele próprio descreve em G1 3,28 da seguinte maneira: “Não há aí homem e mulher, pois vós sois um em Cristo Jesus. Porém, se sois de Cristo, sois semente de Abraão e herdeiros segundo a promissão”. A filiação divina torna homens e mulheres iguais e livres. A fé em Cristo, como testemunhada no Novo Testamento, apresenta uma tensão em relação às leis e ordenações patriarcais muito semelhante à da fé em javé no Tenach /Antigo Testamento. Ao passo que o Jesus dos evangelhos sinóticos é apresentado abertamente como amigo das mulheres e crianças, impinge-se à cabeça ressuscitada da comunidade uma inclinação hierárquica de dominação, que mais tarde, no “episcopado monárquico” já em Inácio de Antioquia, assume a gradação “um Deus - um Cristo - um bispo — uma comunidade”. Ao passo que, de acordo com Joel 3, o derramamento original do Espírito atinge velhos e jovens, senhores e escravos, homens e mulheres igualmente e todos eles são preenchidos pelas energias do Espírito de Deus, mais tarde a “dominação santa” dos “espirituais” reprimiu a liberdade cristã da comunidade carismática.
    Estraido do Livro- Reflexoes Teologicas - de Jurgen Moltmann - Editora Unisinos.

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